sábado, 31 de março de 2012

LIBERDADE

Queime os cordões em volta da sua cabeça, que o amarram e o prendem a um estereótipo autocentrado. Ouça o novo cântico de salvação escrito para os que sabem que são pobres. Deixe o medo que tem do Pai e a antipatia que tem de si. Lembra da história de Dom Quixote? O Cavaleiro dos Espelhos mentiu para ele quando disse: "Veja-se como realmente é. Descubra que você não é um nobre cavaleiro, mas o espantalho ridículo de um homem".

O encantador mente para você quando diz: Não és um cavaleiro, não passas de um tolo fingido. Olha no espelho da realidade. Contempla as coisas como são. O que vês? Nada, além de um velho tolo". O pai das mentiras torce a verdade e distorce a realidade. É o autor do cinismo e do ceticismo, da desconfiança e do desespero, do pensamento doentio e do ódio contra si.

Jesus diz: Eu sou o Filho da compaixão. Você me pertence, e ninguém o tirará de minha mão.

Brennan Manning in  Abba's Child

O IMPOSTOR

Esse é o homem que eu mesmo quero ser, mas que não pode existir porque Deus não sabe nada a seu respeito. E ser desconhecido de Deus é excesso de privacidade. O "eu" falso e privado é o que quer existir fora do alcance e da vontade do Amor de Deus - fora da realidade e da vida. Esse "eu" não consegue ser mais que uma ilusão. Não somos bons em reconhecer ilusões, menos ainda as que nos são mais caras, como aquelas com as quais nascemos e que nutrem as raízes do pecado. Para a maioria das pessoas, não há realidade subjetiva maior do que o falso "eu", que não pode existir. A dedicação do culto dessa sombra é o que se chama de "vida de pecado".

James Finley in Merton's Palace of Nowhere.

quarta-feira, 21 de março de 2012

FEITO

Longos braços de carinho;
Doces beijos com olhar de sol;
Tiram defesas, abrem espaços;
Desarmam minha tola resiliência.

Promessas de dias bons;
Tépidas manhãs de amor;
Voz canora, suave, sonora;
Fala "meu bem", "minha vida". Desabo;

Tem pão fresco em sua boca;
Tem beijo na cesta trançada;
Manhãs de simples costumes;
Manhãs de puro amor.

Promessas e planos traçados;
Mudanças de vida e rotina;
O medo mistura sua tinta;
Com a rubra paixão inundada.

Mulher por dentro menina;
Teimoso amor incontido;
Quer viver a vida mais plena;
E morrer no fim;
Ainda amada por mim.

sábado, 17 de março de 2012

HOMENAGEM PÓSTUMA

Hoje fui ao enterro da Gentileza, tive muita dificuldade para chegar lá, muita gente no trânsito não se importou nem um pouco com a minha pressa, levei fechadas, cortadas, buzinadas e alguns palavrões quando pisei mais fundo para me safar do trânsito. Ao chegar ao local onde a Gentileza estava sendo velada, logo na porta, muitos dos parentes estavam com dificuldades para entrar, pessoas estranhas se acotovelavam diante do caixão, cheios de curiosidade e pouquíssima intimidade com a falecida. Ao entrar, vi muitas senhoras de pé, algumas delas grávidas, enquanto vários jovens estavam sentados, alguns com os pés em outras cadeiras.
Ao tentar me aproximar para prestar minhas homenagens, vi que o caixão estava vazio. A princípio não entendi, só me dei conta do que estava acontecendo quando percebi ao meu lado uma criança dando um pedaço de pão para um cachorro faminto. Então ela levantou do caixão cambaleante, toda machucada, ferida e mutilada para tentar mais uma vez.

CONFIANÇA

Recentemente, ouvi alguém falando que "fulano de tal me pediu para ser seu fiador" e a pessoa desdobrou um rosário de motivos que justificavam sua negativa quanto ao "favor" pedido. Percebendo a coincidência etimológica com a palavra que nomeia esta post, matutei automaticamente sobre a atual pandemia de desconfiança atual. Ninguém hoje consegue mais afirmar que confia no outro, que confia coisas simples como um número de telefone ou um nome. Essa crise há tempos já chegou aos casamentos, em aspectos que variam da mais profunda intimidade à mais rasa das confidências, como ter medo de rato morto, por exemplo.
Isso é tratado por todos como algo até normal, corriqueiro e natural. Só que eu não vejo nada de normal, corriqueiro e muito menos natural em algo tão grave...
Penso que algumas coisas na vida são muito valiosas, outras, nem tanto. Não confundir o valor das coisas evita que percamos o senso da moralidade, a sinceridade, o olho-no-olho que tanto se quer com as pessoas. Evita que nossas relações sejam superficiais, precisamos cultivar relacionamentos sinceros, onde a verdade não precise ser encoberta ou parcialmente revelada (não importa sua tendência filosófica, é a mesma coisa). Uma pessoa não deve sacrificar sua identidade ou a falta de empatia com outra só porque é conveniente ou socialmente apropriado ou pareça ser a escolha certa.
Enfim, o íntimo das pessoas está tão distante da sua face que não sabemos mais com quem nos relacionamos, só sabemos que são muitos estranhos, verdadeiros desconhecidos, arquétipos das nossas necessidades, produções hollywoodianas daquilo que esperamos que o outro seja no seu íntimo mais puro, sincero e cristalino ser.
Acho que vou pedir isso para algum conhecido meu, afinal faz tempo que eu não escuto a expressão "é rúim, hein?"

quinta-feira, 15 de março de 2012

DIA

Acordar, beijo, cafuné, beijo, café, pão quente, aspartame branco, banho, uniforme, roupa, beijo, banco, vale, trabalho, saudade, telefone, trabalho, saudade, telefone, almoço, saudade, trabalho, saudade, casa, beijo, conversa, beijo, janta, beijo, banho, beijo, televisão, beijo, cama,  beijo, beijo,  beijo,  beijo, beijo,  beijo ...