segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

REVEILLON

Ainda há pouco estava pensando em ir à praia para dar uma olhada no mar, ver o mergulho do sol mar adentro, ver as pessoas caminhando, conversando, sentir a brisa, o cheiro do mar...

Mas não dá, já tem gente bebendo! Aliás, já tem gente bêbada na Avenida Litorânea que acha, e ainda diz, que tá "bebemorando" o Reveillon. E já tá tão doidão, que eu aposto todos os Simoleons dos meus Sims como ele não consegue falar (e nem escrever) "Reveillon" mesmo em dez tentativas.

Já tem gente sem camisa, de calça jeans, descalço e com a barraca cheia de uísque "legítimo" acampado nas dunas esperando dar meia-noite; tias de meia idade com caixas de cerveja com preços mais quentes que a própria; celtas, corsas, pálios e fiestas com aparelhagem de som mais caros que os próprios tocando aquele forró (e não é o ritmo popularizado pelo filho do Januário); guarda municipal, com um olho nos carros e outro nas piriguetes que chegam de ônibus com suas roupas e modos recatados; pitboys já sem camisa que é pra mostrar suas hipertrofias musculares e neurais como prova do mau uso do dinheiro do papai; casais apaixonados de 17, 16 e 15, 14, 13 e até de 12 anos fazendo pose de marido e mulher encostados no carro do pai dele; repórteres de rádio e/ou TV de baixíssima audiência narrando a chegada de "muita gente bonita" para a festa do reveillon. (outro que, se escrever certo, escreve com dúvida); meninas, garotas, mulheres e senhoras de todos os estratos sociais e morais determinadas a acordar (ou nem dormir) no primeiro dia de 2013 acompanhadas de alguém (seja lá quem for) que pague a bebida e as duas comidas; ambulâncias com paramédicos e enfermeiros que não foram felizes no zerinho-ou-um, que decidiu quem ficaria com o turno de reveillon; e ainda tem aquela turminha estranha, com aquele cigarrinho estranho, que assistirão fogos como todo mundo só que com cores mais vivas.

Por esse motivo, desisti de ir à praia. Prefiro voltar pra casa, cozinhar meu nissin-que-nojo, ralar sobre ele o queijo que eu ganhei da Thaís Cubinho e procurar um bom filme na TVN até achar um livro pra ler.

E já que eu falei tanto de reveillon, bom reveillon pra vocês que vão acordar com a sensação de que o Hulk sapateou na sua cabeça e Jabba beijou sua boca.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

SANTA KLAUSURA

Já começou a maluquice desenfreada de um monte de gente desesperada para comprar o presente mais caro que o seu minguado salário puder. Mesmo sabendo que passa aperto de janeiro a janeiro, detona o décimo terceiro salário sem fazer nenhuma reserva. Parecem entrar em um transe coletivo onde as dificuldades financeiras desaparecem e dão lugar a um desejo incontrolável de não deixar o tal natal passar em branco.

Daí em diante, as situações com que nos deparamos, fariam esse sujeito aí corar de vergonha.

O tio gordo, suado e com bafo de álcool vestido com uma fantasia de papai noel feita daquele tecido vermelho brilhante, as botas são um tênis velho todo coberto de fita isolante e a barba mais rala que meu cabelo, o cinto é a cinta preta da tia, usada para segurar a pança quando esta põe um dos seus vestidos "provocantes". E na cabeça, um gorro feito de tnt vermelho mais parecendo com um coador de café gigante (e vermelho).
A música da Simone cantando "então é natal" em alto volume e todo mundo se sentindo em plena big apple. A gurizada doida pra comer, brincar e dormir (coisa mais normal do mundo) e os adultos de dentro daquela alucinação coletiva, brigando com a gurizada que não sabe esperar a MEIA NOITE (quem inventou isso?) para a "ceia".
E por falar em ceia, será servido um frango recheado com farofa (feita de farinha de mandioca mesmo), arroz, que é de lei e uma maionese com mais batata que perna de ciclista. E para dar aquele clima natalino, dá-lhe uva passa. Uva passa no frango, uva passa na maionese, uva passa na farofa, uva passa até no cabelo da dona da casa. Olha que o povo todo já chegou e agora que a empregada-esposa tá indo pro banheiro pra desmontar a cozinheira e colocar o vestido novo feito especialmente para a ocasião que é muuuuito parecido com todos os outros vestidos que ela tem no guarda-roupa.
Os convidados vão chegando trazendo uma sobremesa especial. Pavê (com generosas camadas de biscoito maizena) e outros trazendo mosaico de gelatina.

Para beber, alguns refrigerantes e uma garrafa de sidra, guardada como tesouro nacional e aberta solenemente pelo dono da casa que no momento traja elegante camisa de time de futebol (mas como é uma ocasião especial é de algum time da europa) bermuda e uma imitação de all star digna de um Oscar. Aberta a sidra, feito o brinde com taças de acrílico e bebido aquele golinho de nada porque o gosto é de sonrisal com açúcar, entra em cena a cerveja. Daí é só atirar pra longe o CD da Simone e botar um forró bem alto que é pra todo mundo conversar gritando.

Servida a comida, é hora dos presentes (no valor máximo previamente combinado de R$50,00) serem trocados, num amigo invisível super-empolgante e divertido, onde as características do presenteado são ditas ao contrário e o infalível "é marmelada" é entoado só porque alguém tirou uma pessoa da mesma família por puro acaso.

No final temos: crianças cambaleando de sono, outras vomitando porque comeram demais e correram a noite toda, cunhados, genros e maridos todos embriagados, falando besteira, noras e filhas cheias de pratinhos para levar o resto da comida para casa, todo mundo já descalço, mulheres enlouquecidas de raiva porque o marido bêbado não quer dar a chave do possante (um corsa sedan 2008) para ela levar porque ele tá "bonzinho" mas tá falando com a língua congelada. Na cozinha, alguns comentam e resolvem vários problemas de vários parentes enquanto uma montanha de louça começa a se formar na pia - o presente que aguardará a dona da casa acordar no dia seguinte com uma ressaca de sidra porque ela "aproveitou" para beber um pouco (a garrafa tá vazia).

Um natal memorável.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

104 ANOS






 

Oscar Niemeyer Soares Filho completaria 105 anos dia 15 de dezembro de 2012. No ano em que Monteiro Lobato é nomeado promotor público em Areias e no ano em que Rui Barbosa é convidado para representar o Brasil em Haia, nasce o arquiteto mais importante da história do Brasil. Sua longevidade permitiu que ele presenciasse alguns fatos curiosos.

No ano que Oscar Niemeyer nasceu, avião era assim, carro era assim e telefone era assim e o mundo era muito diferente do que vemos hoje. Esse homem acompanhou o nascimento do computador como o conhecemos hoje e viu a tecnologia avançar até o presente com uma velocidade espantosa.

Diz-se que para ter uma vida plena é preciso ter plantado uma árvore, ter tido filhos e ter escrito um livro. Daí temos esse brasileiro imortal que teve bisnetos e escreveu um bom punhado de livros (14) e de quebra, 9 esculturas. E pra quem ainda está achando pouco, ele não plantou uma árvore mas plantou a cidade que se tornou a capital do país.

Quero com este modesto post, escrito em meu sofá, com notebook no colo e com uma boa dose de sono, homenagear um homem que não conseguiu viver o suficiente para chegar ao tempo em que a sua obra e visão de futuro seriam contemporâneas de todos nós.

Em um tempo de degradação moral, escândalos e corrupção, um homem deixa sua marca em seu país e na história utilizando como ferramentas, trabalho, dedicação, talento e criatividade.