segunda-feira, 7 de março de 2022

O QUE É A BELEZA?

A beleza é algo quase imperceptível aos olhos naturais, uma sensação de pertencimento, uma contemplação que vai além do olhar que chega ao sentir, uma maneira de ver as coisas e se sentir agraciado pelo que vê. A beleza, em sua definição mais ampla é a capacidade de perceber algo que dá sentido a existência. É como se a beleza gritasse aos nossos olhos diariamente, e apenas por um raro momento conseguíssemos ver a beleza em toda a sua plenitude. Nesse momento, de absoluta contemplação, nos damos conta da sua grandeza e do quanto precisamos daquela beleza para não considerarmos cabível, o vazio existencial dos pensadores que não adicionaram a beleza à sua definição de ser humano.

A miséria é a vida desprovida da contemplação da beleza. Dessa forma, o conceito moderno de realização pessoal é aquele em que o homem sai da “roda de hamster” para poder viver diariamente contemplando a beleza. Todas as propagandas sobre riqueza e sucesso financeiro não mostram um homem ao lado do dinheiro que ganhou na “roda de hamster”. Sempre mostra o homem em estado de contemplação da beleza, financiado com o dinheiro que ganhou na “roda de hamster”, mostrando que não há busca da riqueza pela riqueza, mas a busca da riqueza para proporcionar momentos de contemplação da beleza.

Mas a beleza é muito mais do que isso, a beleza é a pedagogia da bondade. E nesse tempo tumultuado, onde a “roda de hamster” ficou maior e mais pesada e onde não há rodas suficientes para todos os hamsters, é preciso manter a sua roda girando loucamente, para que você não seja substituído por outro hamster mais disposto e mais capaz de girá-la mais rapidamente que você.

Nesse ambiente hostil e carente de instantes mínimos de beleza, sem tempo ou dinheiro para comprar um momento de contemplação da beleza, o homem criou belezas para si. Ao tornar absoluto o conceito relativo de que “a beleza está nos olhos de quem vê”, permitimos que interesses humanos, dos mais diversos, tomassem o lugar da beleza. Nessa etapa vaidosa onde o ser humano desconstruiu a definição de beleza para qualquer coisa que ele queira dizer, passamos acreditar que há beleza em qualquer expressão humana. Ou pior, passamos a acreditar que a expressão humana é a própria beleza quando não é. Então passamos a acreditar que vemos beleza no mictório de Marcel Duchamp sob a alegação de que ele trouxe uma ruptura. Mas uma ruptura do quê, exatamente?

Assim como uma piada, que depois de contada perde a graça, assim é essa falsa beleza que criamos para nós mesmos. Não há mais nada para ver ou aprender diante de algo desprovido da verdadeira beleza. Podemos passar horas diante de uma bela paisagem contemplando a sua beleza, mas temos uma clara vontade de ir embora, por exemplo, de uma exposição de arte abstrata. Chegamos na exposição, curiosos em ver aquilo que outra pessoa criou e assim como a fábula “A Nova roupa do Rei”, olhamos para aquela produção humana com extrema boa-vontade, tentando encontrar dentro de nós uma sensibilidade que não existe. E então fingimos admirar esculturas e pinturas grotescas e sem qualquer estética, com vergonha de sermos vistos como o menino que grita que o rei está nu.

E no meio de toda essa loucura, passamos acreditar que existe um padrão e um lugar para a beleza, quando na verdade nascemos na maior obra de arte já criada, o planeta terra. E nós somos parte fundamental dessa beleza, somos a assinatura do artista, sua identidade visual ao nível genético.