sábado, 6 de maio de 2023

EINSTEIN E O TIKTOK

 Einstein é um dos cientistas mais relevantes da história. Existe a física antes e depois de Einstein. Aqui e e ali nos deparamos com mitos e verdades acerca dos seus hábitos. Já no quesito "frase célebre", há uma infinidade delas creditadas a ele, sendo que a maioria é apenas fruto de uma lembrança precária.

E tudo acontece de forma semelhante:

Em busca de curtidas e engajamento, uma pessoa deseja fazer uma postagem relevante na sua rede social mas só lembra da frase. O autor? Desconhece ou caiu no esquecimento. Quando não é acometida da preguiça de "dar um Google", acaba frustrada por descobrir que o autor da frase solta em sua memória é uma pessoa de pouca relevância histórica ou uma pessoa cuja biografia não é das melhores: um Mussolini, um Hitler, um um Luís Inácio ou Ted Bundy.

Apostando na preguiça dos seus seguidores e daqueles que verão sua postagem, credita a Albert Einstein uma frase que ele nunca disse. Esse é o relato mais comum de como surgem essas postagens.

Isso remete à sobriedade do escritório de Einstein. O que ele precisava era de uma cadeira, uma mesa ou escrivaninha, papéis, lápis e uma grande cesta de lixo para colocar todos os seus erros - revelou um jornalista do Saturday Evening Post em 1929. Nem mesmo livros eram necessários. Sua mente era ao mesmo tempo biblioteca e laboratório, tamanha a capacidade de concentração.

Não vou negar que pensei na seguinte bobagem: "O que aconteceria se o Einstein fosse contemporâneo das redes sociais?" Apesar de ser uma bobagem infantil, foi o ponto de partida para uma reflexão menos tola.

Sabemos que uma mente cansada pode encontrar nas redes sociais o ambiente perfeito para aliviar tensões com conteúdos divertidos e curiosos.

Mas há um lado nocivo.

Assim que as redes sociais desenvolveram mecanismos para conectar pessoas com interesses semelhantes, as empresas perceberam rapidamente que poderiam usar essa tecnologia para atingir com precisão o seu público consumidor.

A busca pela nossa atenção é algo tão poderosamente lucrativo que os avanços tecnológicos atuais já fazem parte do campo de estudo de neurocientistas, sociólogos, psiquiatras e de quem mais puder colaborar para tornar as redes sociais uma ferramenta eficaz em abduzi-lo da sua "vida analógica".

Tudo bem, você poderia me dizer que os cientistas que estão diante das pesquisas científicas mais relevantes não estão nem aí para as redes sociais. Eu até concordaria com você se essa abdução se restringisse às redes sociais. Ferramentas de comunicação análogas ao WhatsApp e softwares de videoconferência como o Microsoft Teams cumprem o papel das redes sociais em roubar a atenção das pessoas, embora de forma menos intensa.

E assim nascem três perguntas sem resposta:

1. Quantas descobertas científicas já foram perdidas porque o cientista estava distraído demais com essas tecnologias abdutoras da realidade?

2. O saldo entre as vantagens que a tecnologia proporciona e o tempo consumido em distrações proporcionadas é positivo em favor do desenvolvimento da ciência?

3. Será que existe um Einstein contemporâneo distraído com as dancinhas do TikTok em algum lugar do mundo?

Disciplinar o tempo de exposição às redes sociais pode ser um exercício de autocontrole bastante interessante. Sentar em um parque ou à beira do mar e admirar um pôr do sol sem fazer uma selfie é um forte sinal de que você ainda está no controle.