terça-feira, 11 de dezembro de 2012

SANTA KLAUSURA

Já começou a maluquice desenfreada de um monte de gente desesperada para comprar o presente mais caro que o seu minguado salário puder. Mesmo sabendo que passa aperto de janeiro a janeiro, detona o décimo terceiro salário sem fazer nenhuma reserva. Parecem entrar em um transe coletivo onde as dificuldades financeiras desaparecem e dão lugar a um desejo incontrolável de não deixar o tal natal passar em branco.

Daí em diante, as situações com que nos deparamos, fariam esse sujeito aí corar de vergonha.

O tio gordo, suado e com bafo de álcool vestido com uma fantasia de papai noel feita daquele tecido vermelho brilhante, as botas são um tênis velho todo coberto de fita isolante e a barba mais rala que meu cabelo, o cinto é a cinta preta da tia, usada para segurar a pança quando esta põe um dos seus vestidos "provocantes". E na cabeça, um gorro feito de tnt vermelho mais parecendo com um coador de café gigante (e vermelho).
A música da Simone cantando "então é natal" em alto volume e todo mundo se sentindo em plena big apple. A gurizada doida pra comer, brincar e dormir (coisa mais normal do mundo) e os adultos de dentro daquela alucinação coletiva, brigando com a gurizada que não sabe esperar a MEIA NOITE (quem inventou isso?) para a "ceia".
E por falar em ceia, será servido um frango recheado com farofa (feita de farinha de mandioca mesmo), arroz, que é de lei e uma maionese com mais batata que perna de ciclista. E para dar aquele clima natalino, dá-lhe uva passa. Uva passa no frango, uva passa na maionese, uva passa na farofa, uva passa até no cabelo da dona da casa. Olha que o povo todo já chegou e agora que a empregada-esposa tá indo pro banheiro pra desmontar a cozinheira e colocar o vestido novo feito especialmente para a ocasião que é muuuuito parecido com todos os outros vestidos que ela tem no guarda-roupa.
Os convidados vão chegando trazendo uma sobremesa especial. Pavê (com generosas camadas de biscoito maizena) e outros trazendo mosaico de gelatina.

Para beber, alguns refrigerantes e uma garrafa de sidra, guardada como tesouro nacional e aberta solenemente pelo dono da casa que no momento traja elegante camisa de time de futebol (mas como é uma ocasião especial é de algum time da europa) bermuda e uma imitação de all star digna de um Oscar. Aberta a sidra, feito o brinde com taças de acrílico e bebido aquele golinho de nada porque o gosto é de sonrisal com açúcar, entra em cena a cerveja. Daí é só atirar pra longe o CD da Simone e botar um forró bem alto que é pra todo mundo conversar gritando.

Servida a comida, é hora dos presentes (no valor máximo previamente combinado de R$50,00) serem trocados, num amigo invisível super-empolgante e divertido, onde as características do presenteado são ditas ao contrário e o infalível "é marmelada" é entoado só porque alguém tirou uma pessoa da mesma família por puro acaso.

No final temos: crianças cambaleando de sono, outras vomitando porque comeram demais e correram a noite toda, cunhados, genros e maridos todos embriagados, falando besteira, noras e filhas cheias de pratinhos para levar o resto da comida para casa, todo mundo já descalço, mulheres enlouquecidas de raiva porque o marido bêbado não quer dar a chave do possante (um corsa sedan 2008) para ela levar porque ele tá "bonzinho" mas tá falando com a língua congelada. Na cozinha, alguns comentam e resolvem vários problemas de vários parentes enquanto uma montanha de louça começa a se formar na pia - o presente que aguardará a dona da casa acordar no dia seguinte com uma ressaca de sidra porque ela "aproveitou" para beber um pouco (a garrafa tá vazia).

Um natal memorável.

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