O ar-condicionado é uma maravilha da ciência. Há algum tempo eles ganharam a tecnologia do inversor que mantém o compressor funcionando em baixa rotação em vez de "dar um tranco" na energia evitando o liga-desliga.
Mas não vamos esquecer do querido ventilador, que segurou essa barra de resfriar o ambiente durante muitos anos e é sobre ele que eu gostaria de tecer alguns comentários.
Sou nativo de uma cidade quente do Nordeste, mas hoje moro numa cidade de clima mais ameno. Fica até bem friozinho em alguns meses do ano. Sendo assim, o ar-condicionado por aqui acabou virando, de certa forma, um artigo de luxo. No verão, a cidade não vira um forno a céu aberto como na minha cidade natal, mas certamente justifica comprar o rapazinho que passa a noite como se estivesse assistindo a uma partida de tênis.
De mesa, de pedestal ou de parede, o ventilador traz uma função extra - tornar impraticável as condições de voo dos mosquitos (muriçocas na minha cidade).
É claro que o maravilhoso ar-condicionado também tem essa função, já que os mosquitos não conseguem levantar voo com os pesados agasalhos que precisam vestir para não morrer de hipotermia.
Mas uma coisa que pouca gente percebe, é que o ventilador expressa de forma discreta, como a nossa sociedade “perdeu a mão” quando o assunto é oferecer um bom produto.
Tirando as pessoas que conseguem dormir na Marquês de Sapucaí em pleno desfile carioca ou na cerimônia da troca da bandeira em Brasília. O silêncio tem um papel importante no sono da maioria das pessoas.
Quando fui comprar um ventilador para amenizar os efeitos do curto verão centro-planaltino, percebi que não existem os silenciosos ventiladores lentos da pá mais larga e inclinada. Nas lojas só é possível comprar versões reduzidas de hélices de aviões. E quanto mais veloz e mais vento produz, mais valorizado ele é.
Se você procurar por “ventiladores de baixa rotação” na internet, as primeiras centenas de respostas são para defeitos e o que fazer para ele voltar a apagar velas de bolo a 300m de distância.
O consumidor já foi convencido disso. Parece que ninguém quer um ventilador silencioso, que sopre um bom volume de vento, apenas suficiente apenas para amenizar o calor e prejudicar as condições de voo das pequenas hematófagas aladas – Não!
As pessoas querem um tornado dentro do quarto, querem que todas as bolas de poeira que repousam calmamente sob a cama comecem a flutuar numa grande valsa de rinite e coriza.
Os ventiladores de hoje são um epítome da sociedade de consumo e seu jeito raso de pensar: se o ventilador ventila, então quanto mais ventilar melhor.
Mas do que eu estou falando? Já passei dos cinquenta, estou ultrapassado, não entendo as tendências e as necessidades da sociedade moderna, isso não passa de saudosismo!
Será?
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