quarta-feira, 6 de outubro de 2021

A MOENDA DOS SONHOS

De férias em São Luís, minha cidade natal, ficamos hospedados no mesmo hotel onde estavam muitos garotos entre 12 e 17 anos, jogadores mirins de futebol em um clube pequeno, talvez uma escolinha, cuja intenção é prepará-los para, quem sabe, tornarem-se astros do futebol brasileiro.

Desde que chegamos, temos tomado nosso café da manhã fora do hotel. Hoje foi a primeira vez que escolhemos tomar café aqui mesmo e foi justamente quando percebi algo preocupante em relação a formação dos pretensos jogadores de futebol.

Alguns estavam andando pelo salão do café da manhã falando alto com os coleguinhas, todos com as camisas do clube na maior animação. Um deles, inclusive, estava se divertindo com um aplicativo de jogo de futebol no celular. Eu, que não estava numa mesa próxima, pude identificar rapidamente do que se tratava.

Esse cenário me lembrou, de imediato, a algazarra que eu fazia no fundo dos ônibus que eu andava junto com os colegas nos tempos de escola, uma lembrança boa de um tempo de inocência e empolgação juvenil.

Torço para que esses garotos brinquem e aproveitem bastante esse tempo até que passe para a maioria. Espero que nenhum deles esteja vivendo o sonho do pai, de ter sido um jogador de futebol de sucesso ou de ser pai de um jogador de futebol de sucesso. A versão masculina e brasileira daquelas mães de miss mirim norte-americanas que colocam suas filhas, cujas idades ainda cabem nas mãos, desfilando profissionalmente em passarelas para, no final, serem julgadas por traços de beleza ainda longe de estarem prontos.

Espero, sinceramente, que todos eles brinquem bastante durante esse tempo e que seus pais tenham o discernimento de deixá-los escolher o que vão fazer de suas vidas sem influenciá-los. Que os futuros professores, médicos, vendedores, engenheiros, caminhoneiros, psicólogos, agricultores, mecânicos e demais futuros profissionais escalados nesse time, não abdiquem dos seus sonhos para viver o sonho dos seus pais.

Os casos de sucesso na profissão de jogador de futebol estão muito mais relacionados a dedicação e sacrifícios pessoais do que ser fanático por um clube ou sonhar em viver uma vida de rei às custas do filho famoso.

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