domingo, 17 de julho de 2022

TUDO ESTÁ MUITO MODERNO

  Meu celular me chama de Beto. Pedi a ele, por meio de mecanismos sofisticadíssimos, que passasse a me tratar com intimidade, já que vai para quase todos os lugares que eu vou (quase? enquanto escrevo, procuro me lembrar para onde não o levo e nenhum lugar me vem à mente). 

Apesar de ter nascido em 1970, gosto muito da tecnologia atual. Acho o telefone celular, por exemplo, o máximo! Nenhum filme de ficção da minha época de ávido consumidor de enlatados americanos, foi tão ousado em idealizar um aparelho de comunicação pessoal quanto a própria realidade. Precisa achar um endereço? Pagar suas contas? Comprar aquela novidade que você não está precisando? Pedir comida? Pedir carona?

Da última vez que contei, dava para pagar até 8 empresas para fazer suas compras. de supermercado pra você e deixar na sua casa. Esse, então, é um ótimo exemplo de como os tempos estão mudados. Cresci entendendo que fazer supermercado é coisa de adulto, um ato de extrema responsabilidade cuja competência era restrita ao pais. Até um irmão mais velho quando ia ao supermercado, era para comprar alguma coisa que faltou ou algum item extra.

E era no caixa, na hora de levar as compras para casa, onde podíamos testemunhar a importância solene daquele evento. O semblante fechado, tenso, com um certo olhar de dúvida sobre certos itens que eram registrados e cujo preço se somava ao total a pagar. Era a conta feita "nos olhos", um cálculo sem números, um misto de vivência e cautela (ou talvez até receio de sair muito caro), dando ordem para retirar, aqui e ali, certos itens da esteira rolante. E via de regra eram as guloseimas que "dançavam". Num rápido movimento, o biscoito, o chocolate, a uva passa ou o doce eram discretamente colocados na "cesta dos arrependimentos".

Quando o caixa passava o último item, o pai ou a mãe até assentia com a cabeça, como se confirmasse para si mesmo que o valor era aquele. O semblante de "cálculo sem número" só iria se desfazer no estacionamento. A volta para casa era no clima de dever cumprido, estamos abastecidos de provisões até o próximo mês.

Hoje está tudo moderno. A maioria das redes de supermercados têm seu próprio aplicativo que entrega as compras em casa, tem aplicativo de carona que entrega as compras em casa, tem aplicativo, inclusive, que só faz isso: faz suas compras e manda deixar na sua casa. Você escolhe os produtos, vai colocando em um carrinho de compras virtual, faz o pagamento on-line e espera, até que alguém te chame à porta e te entregue as suas compras.

Quando me pus a refletir sobre a modernidade dos tempos tomando como exemplo as compras no supermercado, alguns substantivos me vieram à mente: praticidade, eficiência, comodidade e, obviamente, modernidade. Mas um deles me chamou mais a atenção: banalidade.

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